Travessia Las Horquetas – Cerro Castillo

A Las Horquetas é popularmente considerada uma das melhores travessias da Patagônia Chilena, frequentemente colocada lado a lado com a internacionalíssima Torres Del Paine. Ela certamente possui os elementos necessários para esse título: florestas, montanhas, geleiras, rios congelantes, lagunas, ventos furiosos… enfim, tudo o que se espera encontrar nas frias terras austrais.

A trilha se desenrola parte em propriedades privadas, parte no Parque Nacional Cerro Castillo, na região de Aysén. Cidades e vilarejos como Coyhaique, Balmaceda e Villa Cerro Castillo distribuem-se ao redor, fornecendo em maior ou menor grau de qualidade uma infraestrutura de transporte, alimentação e hospedagem. Vale notar que a famosa Carretera Austral, que interliga Puerto Montt a Villa O’Higgins, passa bem em frente à entrada da travessia.

Geografia e Geologia

Cerro Castillo situa-se na Cordilheira dos Andes, apresentando portanto elevações consideráveis, embora não tão proeminentes quanto àquelas mais ao norte. O título de pico mais alto é do próprio Cerro Castillo, com cerca de 2675 metros; em segundo lugar está o Cerro Peñon, com 2416 metros. E é justamente no alto dessas montanhas, e em outras como Cerro Montura e Cerro El Túrbio, que estão concentradas as geleiras mais permanentes, que perduram mesmo no verão.

A respeito da intrincada geometria do Cerro Castillo, uma placa na praça principal da vila explica a sua formação e origem. O alto da montanha é composto por sedimentos de cor escura e de origem marinha, indicando que há milhões de anos toda aquela região estaria coberta pelo mar. No cume é possível observar fósseis de Amonitas, moluscos marinhos já extintos. Já o formato intrincado das “torres” é devido ao gelo e a água, que se infiltram, pressionam e desprendem pedaços de rocha.

Fauna e Flora

Ao se deparar com as súbitas elevações da Cordilheira, os ventos húmidos do Pacífico transformam-se em chuva, induzindo a formação dos famosos Bosques Andinos entre as montanhas. Esses bosques dominam a paisagem dos vales e encostas, com a presença notável de variadas espécies de Nothofagus. No outono, os bosques de lenga (nome popular para o Nothofagus) tomam uma coloração amarelada, muito diferente do verde escuro visto em outras épocas.

Espécies herbáceas hidrofílicas surgem em campos encharcados, húmidos, nas partes mais planas e isoladas da região. Arbustos de calafate, que dão origem a diversos produtos alimentícios locais, também podem ser encontrados ao longo do caminho.

Quanto à fauna, é relativamente frequente a observação do Huemul, cervídeo ameaçado de extinção. Pumas também andam por lá, embora o seu avistamento seja mais difícil. Nos quilômetros iniciais da travessia, placas alertam sobre a possibilidade de encontrar javalis. Por fim, mutucas voam e incomodam no primeiro dia de travessia.

Clima e tempo

O frio é marca registrada da Patagônia e sua presença é garantida em todos os meses do ano. Mesmo no verão, quando a temperatura diurna alcança pouco mais de 20ºC, o termômetro pode marcar valores tão baixos quanto 1ºC ou 2ºC nas madrugadas. Isso sem contar com o efeito da altitude e dos fortes ventos, que ajudam a derrubar a temperatura absoluta e a sensação térmica. Instabilidade meteorológica deve ser SEMPRE lembrada ao escolher equipamentos de caminhada e camping.

Veja a seguir um gráfico mostrando a sensação térmica média histórica – mínima e máxima – para a cidade de Cerro Castillo.

Escolhendo a cidade base

Antes de iniciar a trilha é provável que você precise de alguma cidade para se hospedar ou comprar suprimentos. Você terá a disposição 3 cidades: Coyhaique, Balmaceda ou Villa Cerro Castillo. Se você precisa comprar algum equipamento para trilha ou algum alimento para comidas mais elaboradas, melhor é ir até Coyhaique pois lá há boa oferta de lojas e supermercados. Por exemplo, lá estão lojas como a Doite e North Face, que garantem boa parte dos equipamentos necessários para trilha. Mas se você já tem o necessário para executar a travessia ou se estiver precisando apenas de coisas bem básicas, considere ficar em Balmaceda ou Villa Cerro Castillo, que são mais próximas das entradas da trilha.

Em todas as cidades é possível comprar botijão simples para fogareiro, macarrão, molho para macarrão, miojo (nas cidades pequenas é mais comum encontrar aqueles em copos de plástico), sopas, algumas frutas, biscoitos, chocolates etc. Em quase todos os estabelecimentos são aceitos cartões de crédito e débito.

Quanto à infraestrutura de hospedagem, a cidade mais complicada é Balmaceda, que conta com poucas e caras alternativas de hostal. Em Coyhaique e Villa Cerro Castillo, mais turísticas, é possível encontrar campings e hostals a preços que variam de 6.000 CLP a 20.000 CLP por pessoa/noite.

Para se locomover entre a cidade base e o início da trilha, é preciso levar em consideração as diferentes formas disponíveis:

  • Ônibus: há ônibus indo/saindo para/de Coyhaique quase todos os dias. Geralmente saem de lá início da manhã e podem parar em locais adequados (por exemplo, na entrada da Las Horquetas)
    para embarcar ou desembarcar pessoas ao longo da estrada. Não há ônibus saindo de Balmaceda, de forma que você pode pedir carona ou pagar um taxi para te levar até o trevo com a Carretera Austral para então pegar o ônibus vindo de Coyhaique. Pagamento em espécie.
  • Táxi: você pode pagar alguém para ir e voltar a todos os lugares, mas o preço não será baixo. Por exemplo, paga-se cerca de 50.000 CLP para ir de Balmaceda à entrada Las Horquetas de táxi.
  • Carona: é relativamente fácil conseguir carona em algumas regiões do Chile, especialmente ao longo da Carretera Austral. É uma opção viável, mas lembrando que em alguns lugares a competição
    por carona é alta.

Existe uma outra opção de hospedagem para aqueles que precisam passar uma ou mais noites próximo à entrada Las Horquetas. Trata-se do camping Laguna Chiguay, que dista 7.5km do início da travessia. O site da CONAF indica um preço de 11.000 CLP por pessoa/noite, mas no verão de 2024 nada estava sendo cobrado. Ótimo, mas com um grande inconveniente: uma enorme infestação de lagartas de fogo. Elas literalmente caem do céu. Banheiros, mesas, cozinha… tudo infestado. Pode ser alguma ocorrência sazonal de verão ou algum problema ecológico específico daquela área, mas é complicado conviver com as lagartas por muito tempo. De qualquer maneira, é uma possibilidade acampar por lá e no dia seguinte caminhar até Las Horquetas; ou então simplesmente pedir carona ou aguardar o ônibus que vem de Coyhaique e que passa por ali entre 08h e 10h da manhã.

Veja na tabela abaixo as distâncias envolvidas entre cada uma dessas cidades e a entrada Las Horquetas.

Entrada/CidadeCoyhaiqueBalmacedaVilla Cerro CastilloLaguna Chiguay
Entrada Las Horquetas65km31km29km7.5km
Distâncias entre os principais cidades/camping e a entrada Las Horquetas.

A trilha

A travessia começa às margens da Carretera Austral, 7.5km após o camping Laguna Chiguay. Após breve registro em uma casinha da CONAF, a trilha prossegue por propriedades privadas, atravessando pastos, rios e florestas. Lugares como Puesto Viejo e Guarderia, marcados para possíveis campings, não são recomendados para pernoite, devendo o visitante prosseguir até o Camping El Turbio (15km). No mesmo dia, uma vez montadas as barracas, é possível prosseguir pela trilha opcional de 3.5km que leva à Laguna El Túrbio.

No segundo dia de travessia é preciso levantar cedo para atravessar pela manhã o Paso Peñon, que costuma ter neve inclusive no verão. É o primeiro trecho com subida, com desnível de 511m e feito inicialmente dentro da mata e depois em pedras soltas. Alguns pequenos trechos, quando executados sobre neve, oferecem algum risco de pequenas quedas. Após o Paso Peñon a trilha prossegue em descida até o Arroio El Bosque, a partir do qual é feita uma pequena subida até o Camping El Bosque. Nesse trecho é preciso atenção: tanto o mapa oficial quanto o tracklog oferecido pelo site www.parquenacionalcerrocastillo.cl estão marcando a posição incorreta do Camping El Bosque: a posição correta é quase 1km após a indicação feita por eles. A distância entre o Camping El Túrbio e o El Bosque é de 9km. A partir do camping El Bosque é possível alcançar outra laguna, chamada genericamente por Laguna Congelada, numa trilha com cerca de 1.5km.

O terceiro dia é marcado pela Laguna Castillo e pelo Paso do Morro Negro. É preciso acordar cedo e estar no cume do Morro Negro até o fim da manhã. Quase 3.5km separam o camping El Bosque da Laguna Castillo, numa ascensão de quase 500m.

Da base da laguna até o cume do Morre Negro são 3.5km e mais quase 500m de desnível positivo, num trajeto de pedras soltas. Lá de cima é possível ter bom panorama da patagônia próxima, inclusive das montanhas de Cerro Palo e Punta Duff sob as quais percorrem as trilhas do 3º ou 4º dia. A descida do Morro Negro é sujeita a ventos fortes e potencialmente perigosos, sendo recomendado aos visitantes que analisem previamente as condições meteorológicas. Se o tempo e o vento estiverem ruins, recomenda-se tomar a trilha secundária chamada Sendero Mirador Laguna Castillo, que tem 6.2km de extensão. Mas se o tempo estiver bom, a descida pelas encostas do Morro Negro até o camping Porteadores é de 3.3km, num desnível negativo de 815m.

Uma vez no camping Porteadores, caberá ao visitante decidir se permanece ali ou prossegue para acampar no Neozelândes, a 3.6km de distância. É possível também montar acampamento no Porteadores e seguir, no mesmo dia e em bate-e-volta, para a Laguna Duff, adicionando mais 6.7km de trilha. Independentemente da escolha, o quarto dia é considerado o último da travessia. Do Porteadores à saída Estero Parada são 2.8km fáceis e em descida suave. Ao chegar no Estero Parada, deve-se registrar a saída e pegar o montante devido.

Se você não combinou previamente um resgate, será necessário obter carona ou simplesmente ir andando até a Villa Cerro Castillo. A carona nem sempre é fácil, pois ali transitam muitos carros de resgate, que foram pagos por grupos, e eles certamente não darão carona. Do Estero Parada à Villa são 7.8km em estrada de terra.

Informações rápidas

  • A distância total da travessia é de 50 a 60km, a depender dos caminhos opcionais escolhidos.
  • Inicie a travessia entre 9h e 14h da tarde. Fora desse intervalo a CONAF não permite a entrada no parque.
  • O recomendado é iniciar a travessia pela entrada Las Horquetas, mas aparentemente nada impede que se faça o contrário.
  • Os preços para a realização da travessia, cobrados na saída do parque e em espécie, são atualizados na abertura da temporada e podem ser conferidos no site https://www.conaf.cl/parques/parque-nacional-cerro-castillo/.
  • Todos os pontos de camping recomendados possuem banheiro, mesas e fonte d’água (pia com torneira ou leito d’água próximo). Em relação à água, a única exceção é o Camping El Bosque.
  • Acorde cedo para iniciar a subida ao Paso Peñon e ao Morro Negro. Sob condições meteorológicas ruins, aborte.
  • Em geral os campings são espaçosos. O Porteadores, no entanto, recebe muitos visitantes e pode eventualmente ficar sem bons lugares para armar a barraca.

Mapa

Para visualizar nosso mapa da travessia Las Horquetas, acesse o menu Mapas. Para baixar o mapa e navegar usando o Avenza, basta ler o QR Code abaixo ou acessar Avenza Map Store.

Galeria

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